O que esperar de 2022 empreendedor?


É hora de empreender? É hora de investir no meu negócio? Chegou minha hora de pedir demissão e iniciar meu negócio?


Longe de mim querer fazer previsões no estilo Mãe Dinah, até porque, ela mesmo cometeu erros inesquecíveis nas tais “previsões” que ela fazia, como a de que a terceira guerra mundial ocorreria em 1984, que o Brasil seria derrotado na Copa de 1994 e que o presidente Collor faria um excelente governo e ninguém conseguiria “dobrá-lo”.

Aqui, vou ignorar aquilo que não é consenso, ou que é apenas empirismo, para nossa saúde mental, e vamos analisar apenas fatos importantes sobre 2022, que tanto governo, oposição ao governo, economistas e o próprio mercado concordam, ou são fatos estabelecidos, beleza? Vem comigo dar uma olhada no cenário que nos aguarda:

Desaceleração global e crises econômicas em potências mundiais;

2022 será ano de eleições estaduais e federais. Prepare seus nervos porque a guerra política deve deixar o mercado nervoso o ano todo!

Inflação será o principal problema econômico em 2022, segundo o Ministro Paulo Guedes (17/11/2021 em entrevista coletiva);

Banco Central cortou previsão para PIB de 2022 e vê maior risco de inflação superar teto (conforme o Relatório Trimestral de Inflação divulgado em 16/12/2021);

Após a aprovação do Auxílio Brasil, PEC dos Precatórios e mudanças na PEC do Teto de Gastos, os principais bancos e corretoras estão revisando suas perspectivas em relação ao dólar, que em 2022 deve se manter acima de R$ 5,50. Esta previsão está em conformidade com a expectativa oficial do governo, de que o dólar nesse patamar é ruim por um lado, mas é bom para o agronegócio, e investidores que entram no País, e podem ter um ganho adicional (segundo o Ministro Paulo Guedes em 18/11/2021 em entrevista coletiva);

É esperado ainda que a taxa SELIC alcance 11,50% ao ano em 2022. Neste momento está 9,25% (previsão do boletim Focus do Banco Central, divulgados em 20/12/2021);

Taxa de desemprego tende a permanecer elevada em 2022, segundo Relatório de Acompanhamento Fiscal (divulgado em 18/08/2021, da Instituição Fiscal Independente, instituição ligada ao Senado Federal);

Renda média do brasileiro é a menor desde 2012 (divulgado pelo IBGE em 28/12/2021, no relatório da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua);

Em rede nacional de rádio e televisão, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse no dia 31/08/2021 que a crise hídrica se agravou e fez um apelo para um “esforço inadiável” de redução do consumo de energia elétrica. O fato é que estamos na pior crise hídrica dos últimos 80 anos, o que afeta diretamente nosso sistema hidrelétrico. Sem energia abundante, além da conta aumentar, freia ou encarece o setor produtivo do país, e consequentemente, há aumento de preços e escassez.

 


Com o cenário devidamente posto, sem melindres, a pergunta é: “No que tudo isso me afeta Rodrigo?” – Em tudo! E diretamente querido empreendedor!


 

Como eu disse, aqui vou analisar de forma fria, calculista e principalmente honesta esse cenário, para que você empreendedor possa refletir, sem paixões, mas racionalmente.

Primeira coisa é entender que ano eleitoral a nível federal sempre afeta o mercado (a economia já viveu algo muito parecido em 2002, quando na época a inflação ficou acima do limite superior de tolerância), já que previsões de médio e longo prazo só podem ser feitas baseadas em quem provavelmente irá conduzir a política nacional, e por consequência, a economia.

Como o futuro presidente compreende as questões envolvendo a dívida pública, inflação, câmbio, juros, privatizações e os gastos públicos podem acalmar, ou estressar o mercado. E mercado feliz, garante investimentos, produção, arrecadação e obviamente emprego e renda. Mercado estressado, é fuga de capitais, especulação, retenção de crédito, investimentos paralisados e aumento do desemprego.

A inflação, bem, essa nem preciso lhe dizer que te afeta diretamente. É bom deixar claro que a pandemia da Covid-19 deixou um rastro de destruição na economia global em 2020 e 2021, e uma das sequelas, sem dúvidas, é a inflação, que cresce em vários países. Problema global! É besteira achar que estamos vivemos uma recessão apenas no Brasil. Porém, como nossa economia já era frágil antes, agora, entra em estado agonizante.

Pode ser que você não entenda bem o conceito de inflação, então me permita partir para conceitos práticos: A inflação é a perda de valor do dinheiro resultante de um aumento generalizado nos preços da economia. Ou seja, se hoje você tem R$ 20,00 e consegue comprar um produto, com uma inflação de 10% ao mês, você precisará de R$ 22 para comprar esse item mês que vem.

O que causa inflação? Gastos públicos (o Banco Central precisa intervir no juros, e até no câmbio), indexação (a inflação de hoje passa a ser o patamar inicial do mês que vem), cartéis ou monopólios, queda da produção, custos da produção (na maioria por conta da dolarização), prejuízo nas importações x exportações, infraestrutura (crise hídrica por exemplo) e a economia global.

E no Brasil, por conta do aumento das incertezas em relação à questão fiscal, a inflação parece que não dará trégua, porque o dólar seguirá valorizado frente ao real, pressionando os preços dos produtos que dependem de importação, dos alimentos e dos combustíveis. Já se fala no pior cenário possível: Estagflação, que é quando não há crescimento, porém os preços aumentam continuamente. A inflação brasileira em 2021 deve fechar o ano maior que a de 83% dos países, segundo o levantamento do Ibre/FGV, com base em relatório do FMI.

Não acabou… Tem mais: Nesse ritmo, entram as taxas de juros. Permita-me explicar algo:

Juros baixos: Estimulam o desenvolvimento, exportações (vender em moeda estrangeira é muito interessante), crédito e financiamentos mais fartos (mercado imobiliário e construção civil agradecem), despesas financeiras menores, mas, o ponto negativo é que afastam o capital externo, diminui os lucros dos bancos e fundos, seguradoras, e diminuem a rentabilidade dos investimentos baseado em juros (mas aumentam o interesse dos investidores nas corporações de capital aberto). Sem falar que o Governo passa a ter dificuldade para financiar a sua dívida, composta de títulos públicos negociados no mercado financeiro, que têm a rentabilidade atrelada à variação da SELIC.

Juros altos: Segue praticamente a realidade inversa do que eu apontei acima! Os juros altos são uma arma usada por governos para combater a inflação, mas há efeitos colaterais conhecidos, como atrapalhar diretamente o crescimento do país, queda do consumo, e queda na expansão dos negócios (financiamentos ficam mais caros para o empreendedor). Lembre-se que quando os juros do país estão altos, o consumidor tende a comprar menos, porque a prestação de seu financiamento ou empréstimo vai ser mais alta.

O que um governo normalmente calcula ao aumentar os juros, é que uma geladeira ou um carro ficam mais caros, menos pessoas compram, em tese a oferta sobe (a demanda cai), e isso faz o preço cair, derrubando a inflação. Na teoria, essa é a arma! Fora que o governo consegue tornar mais atrativo seus títulos públicos negociados no mercado financeiro, captando mais recursos (rentabilidade atrelada à variação da SELIC). Bingo!

É uma “sinuca de bico” empreendedor! Em economia, é o famoso dilema “Inflação x Crescimento”.

Daí, agora precisamos falar disso na vida do empreendedor em 2022:

Com o estrago da pandemia, e esse cenário econômico que já se desenhava antes mesmo do atual governo, empreender foi a solução que as pessoas encontraram para garantir seu sustento no final do mês. Não é o ideal empreender nessas condições, mas muitos, não tiveram escolha.

Segundo o Boletim do Mapa de Empresas do Ministério da Economia, no segundo quadrimestre de 2021, foram abertas mais de 1,4 milhões de novas empresas no Brasil. Esse é o melhor resultado quadrimestral da série desde 2011. Esse resultado registra um aumento de 1,9% a mais do que o do quadrimestre anterior e 26,5% superior ao período de 2020.

CAUTELA – Não esqueça essa palavra!

 


Pensando em tudo que falei até aqui, permita-me alguns conselhos bem pessoais para você, de coração aberto, de empreendedor para empreendedor:


 

Não saia do seu emprego para empreender! Principalmente se for um emprego estável, com boa renda, e bons benefícios. Ficar desempregado, e ainda falhar na tentativa de empreender nesse momento, pode lhe derrubar para o resto da sua vida! As dívidas geradas poderão se tornar impagáveis… Não desista do seu sonho, mas por outro lado, busque-o com responsabilidade;

Por outro lado, não tente viver a vida de empreendedor e empregado ao mesmo tempo. Pode até funcionar por um tempo, mas chega o momento em que a conta chega: Cansaço, stress, ansiedade e distância da família. E tem um outro efeito colateral: Dificilmente você conseguirá ser um bom funcionário, e ao mesmo tempo, entregar um produto de excelência ao seu cliente. Alguém aí vai ser lesado (ou você vai perder sua “vida”);

Não é momento para dívidas, financiamentos ou empréstimos para abrir ou expandir seu negócio. E também não é o momento de dilapidar seu patrimônio para levantar recursos (vender bens agora é arriscar receber menos do que vale em uma economia estável). Porém, as linhas de crédito subsidiadas pelos governos tendem a ser um ótimo negócio. Haverá injeção de crédito com juros subsidiados no próximo ano, fique esperto. E claro: Incubação ou Aceleração é um ótimo caminho. Se por um lado é ruim vender, por outro, é um ótimo momento para comprar de quem está agonizando (se tem capital disponível para esse risco);

Evite gastos desnecessários, e equilibre seu capital de giro até que você consiga ter sua reserva de emergência na sua empresa. Se tem funcionários, não esqueça de recolher paralelamente os valores do 13º salário para não precisar de empréstimo no segundo semestre. Especialistas dizem que é recomendado ter entre 6 a 12 vezes o valor de seus gastos mensais guardado. Mas isso vai depender muito de alguns fatores, como a segurança que você tem em sua capacidade de negócio, e se tem contratos garantidos, mensalidades, seguros, ou garantias de receitas. Pense sempre nessa reserva como se fosse utilizá-la para encerrar seu negócio;

Se o que necessita para produzir é baseado em dólar, tente buscar alternativas nacionais, ou, compras em escala maior, com preços menores (volume);

Como a energia passa a ser um ponto sensível da produtividade, é importante a economia no consumo, e se tiver a oportunidade, migre para a autoprodução de energia (solar por exemplo);

Não perca de vista sua lucratividade (quanto sua empresa lucrou) e sua rentabilidade (retorno do investimento que faz para produzir). Pode ser nos centavos que você vai salvar sua empresa. Conhecer em detalhes o seu custo é a chave! Você sabe exatamente à nível de centavos quanto custa a produção do seu produto? Ou quanto custa a hora/minuto do seu serviço? Quanto custa a hora/minuto do seu funcionário? Quanto você perde com a empresa parada por 2 horas por exemplo?

O fato do desemprego estar em alta, pode ser um ponto positivo: Melhores profissionais por salários mais acessíveis ao pequeno e médio empresário! A vida é assim… Oferta e demanda, sempre!

Revise seus fornecedores! E te falo mais: Pode ser que eliminar um intermediário, e ir diretamente ao produtor, pode tornar seu custo mais baixo, e seu preço, mais agressivo;

Não caia na pegadinha de postergar impostos! A conta pode chegar exatamente no seu pior mês de faturamento;

Encare o marketing digital como um vendedor! Um funcionário! Quando bem-feito, o retorno sobre o investimento muitas vezes supera um time inteiro de vendedores. Conheço casos de empresários que partiram 100% para a web através de um SEO ajustado, e redes sociais bem alimentadas;

Falando em tecnologia, o e-commerce e o delivery salvaram muita gente nos últimos 2 anos. Pequenos empresários venderam até milhões simplesmente fazendo parte de marketplaces (grandes sites e-commerces), ou trabalhando com infoprodutos, cursos EAD e até parcerias com influencers;

Ganhe em dólar/euro, mas gaste em reais! Eu sei que isso não é para todo mundo. Mas se for possível para você, não hesite!

Você precisa ter um bom contador! Principalmente se já não é mais um microempreendedor. Falo por mim: Na crise, contador para mim é estratégia! O enquadramento tributário, regime tributário, as brechas, e as oportunidades que mudanças na legislação trazem nunca passam batido aos olhos de um bom contador;

Fique esperto com as formas de pagamento que você oferece! Nem sempre receber em Pix ou dinheiro é possível, então, se for necessário utilizar recebimentos via cartões ou boletos, negocie! Evite usar intermediadores de pagamento. Tente negociar diretamente com as operadoras de cartões e com os bancos. E não esqueça de negociar também as taxas de antecipação de valores, baixa automática, registro de boletos, etc. Crie métodos mais eficientes para cobrança regulares (mensalidades por exemplo). E fique atento: Com juros altos, você pode ter problemas em ofertar financiamentos por exemplo;

Quando se recebe tudo de uma vez, por um produto ou serviço que foi pago parcelado pelo cliente, existe o sério risco desse valor girar no seu fluxo mensal, e você não se organizar para que tenha esse caixa nos meses subsequentes para continuar prestando o serviço. Um exemplo: Você é pedreiro e pegou uma casa para fazer que vai demorar 3 meses, e o cliente te pagou 50% de entrada, e o restante vai pagar quando terminar a obra. Tenha inteligência para cobrar o valor que te permita viver integralmente nos próximos 3 meses, mas sem exagerar, pois afinal vai receber o restante quando terminar (por isso é importante ter capital de giro);

Busque o Sistema S (SEBRAE, SENAC, SENAI, SEST, SESI, SESC, SENAR, SESCOOP e SENAT). Tem muita coisa que essas instituições podem fazer por você, passando por cursos, capacitações, recrutamento e seleção de funcionários, subsídios e financiamentos, aceleração, incubação, e por ai vai. Adicione também na sua lista buscar sua Associação Comercial e sua associação de classe, porque às vezes, possuem projetos muito interessantes de apoio ao empreendedor/profissional;

Planejamento! Mensal, trimestral, semestral e anual. E nunca faça planejamentos projetando números “ideais”. Sempre tive para mim, que ao estabelecer metas, sou pessimista (ou realista), imaginando que sempre haverá imprevistos, ao invés de pensar que talvez eles ocorram. Parto do pressuposto de que tudo está contra mim, e tudo pode dar errado. É melhor comemorar por ter ultrapassado suas metas, do que amargar perdas financeiras por metas não cumpridas, e custos baseados no que não se concretizou;

Perceba que momentos de tensão econômica requerem sempre muita cautela do empreendedor, principalmente por conta da falta da variável “previsibilidade”, de curto e médio prazo. É necessário passos firmes e seguros, dentro das suas possibilidades já pré-existentes, porque um simples tombo pode aleijar!

Mas por outro lado, o que você faz quando o cenário é conturbado? Chora ou vende lenços? Porque por vezes, esperar o momento ideal para desenvolver um projeto nem sempre é possível.

Na verdade, quase nunca o ambiente para empreender é totalmente propício! Ainda mais no Brasil.

Uma coisa que crises sempre fazem no mercado é eliminar os despreparados ou estagnados, fato! A quantidade e qualidade da concorrência diminui.

Crises funcionam como fases de um campeonato de futebol, onde até promissores ficam pelo caminho, restando aqueles que são grandes e competitivos, e pequenos, porém bem treinados e entrosados.

Descubra se quem está chorando está satisfeito com os lenços que estão usando, e se não estão, chegou a sua hora!

E minha dica de ouro: PARTICIPE DO JUNTOS! Participe sempre de movimentos ou projetos que te gerem visibilidade, conhecimento, e oportunidades de network. No JUNTOS, o diferencial é que trazemos Deus, Nosso Pai, sempre como conselheiro para toda decisão.

Ufa! Que bom que chegou até aqui! Espero que esse texto lhe ajude na compreensão de que empreendedores precisam ser observadores, céticos (não pessimistas) e racionais. Dinheiro combina com razão, nunca se esqueça.

 


Rodrigo Dias Dorval é empresário, palestrante, consultor, programador, DBA a ativista do empreendedorismo há mais de 15 anos, Diretor da RDORVAL Soluções em Tecnologia, empresa que atende clientes em mais de 10 países. Formado em Sistemas de Informação, com especialização em desenvolvimento web, segurança e banco de dados. MBA com foco em “Master Strategic Marketing Concepts and Tools to Address Brand Communication in a Digital World” (Mestre em conceitos e ferramentas de marketing estratégico para abordar a comunicação da marca em um mundo digital), como parte do iMBA da University of Illinois at Urbana-Champaign. Certificado como “Customer Relationship Management Administrator” pela SugarCRM University.

Apaixonado por Clubes de Desbravadores e Ministério Jovem.

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